Minha Alma Cigana

Autor: M.Felix

Ano: 2015

Introdução.

Eu sou um homem de muitos sonhos, alguns utópicos, como ver o planeta sem guerras, sem violência e pessoas que respeitem umas às outras...sonhos são a grande alavanca do mundo, pois sem eles nada se constrói...não se evolui.

Essa pequena estória, é mais uma das tantas que chegam até essa minha cabeça inquieta que quer abraçar o mundo de uma só vez...muitas ideias, e, sempre querendo experimenta-las. Chegou para mim como um presente, em um momento em que eu precisava encontrar a calma da minha mente e me reencontrar comigo mesmo novamente.

A vida atribulada, cheia de percalços muitas vezes nos tiram da nossa essência...é como andar em um imenso deserto, sem agua e nem comida. Você sabe que está caminhando...o problema é o que está a sua volta e ele existe, mas não pode parar porque se parar terá mais um motivo que irá te atormentar...então simplesmente você caminha.

E no meio do deserto dos meus problemas tentando achar uma saída...encontrei Wladimir que me ofereceu água fresca...convidou-me a sentar do seu lado e contou essa estória.

Trousse de volta a mim, o menino que sonhava e dizia a sua mãe que um dia iria expor quadros para as pessoas verem o que ele fazia...sonhos que podem ser realizados e que muitas vezes nem damos conta disso…me fez relembrar que a Mãe Divina habita todos os lugares e a sua luz é o que enriquece a nossa alma, e, é essa riqueza que nos abre as portas para a liberdade da criação, onde estão guardadas todas as respostas para aquilo que buscamos.

A alma cigana busca essa liberdade, muitas vezes grita dentro de nós, tentando a todo custo nos livrar das correntes que nós mesmos forjamos a cada dia com sentimentos inúteis...que nos deixa cegos e surdos.

Convido o(a) caro(a) leitor(a) a fazer essa viagem e como um(a) garimpeiro(a) encontrar a pedra mais preciosa que reside em seus corações, recebendo com muita alegria esse presente tão merecido.

Sou extremamente grato por essa oportunidade que me é dada de poder compartilhar essa emocionante estória.

M. Felix


Leia abaixo um trecho do livro:

Era fim de tarde quando Germano nosso mestre fez interromper a música que as rodas das carroças tocavam, enquanto rolavam pelo chão, em harmonia com as patas dos cavalos que seguiam ritmadas como que num único toque. Aquela música havia tocado desde que saímos da última cidade em que estivemos acampados.

A poeira ficava sempre para traz enquanto a caravana seguia. Agora nos passava a toda velocidade, indo embora até desaparecer dos nossos olhos. O cheiro do mato se misturava ao dessa poeira anunciando que era hora de descansar.

Fechando um círculo, as carroças paravam uma a uma em posição. As crianças eram sempre as primeiras a se agitarem querendo pôr os pés no chão, correr e brincar, mas só o faziam depois que Germano dissesse que podia. Ele é quem nos conduzia e somente quando desse sua palavra, é que poderíamos deixar nossos lugares. Era preciso, pois com a sabedoria do nosso guia confirmaria que aquele local seria seguro para o nosso acampamento.

Era comum pararmos em algum lugar, por mais descampado que fosse, e sermos recebidos por grupos de homens que vinham nos impedir, alegando serem terras proibidas para nós. Muitas vezes eram rudes e agressivos, e, justamente para assegurar-se de que o lugar fosse seguro que essa regra nos era impelida.

Os olhos atentos de Germano percorriam por toda a parte, acredito até que ele enxergava mais longe do que os olhos pudessem ver, pois tinham vezes em que ele mandava que seguíssemos viagem e logo depois, já distante, acabávamos cruzando com homens armados que olhava-nos com olhar de desconfiança.

Naquela tarde no entanto, tudo indicava que estaríamos seguros para fazer a nossa parada. Era um campo verde de mato rasteiro, que parecia um enorme tapete... onde enxergava-se longe até perder de vista. Apenas algumas árvores compunham a paisagem e essas estavam bem onde as carroças pararam.

Germano deu-nos o sinal de que podíamos descer e começar os preparativos para a noite que não demoraria a cair. Desci da carroça lentamente e encostei-me numa das árvores.

Estava profundamente triste e era a primeira vez que me lembro de experimentar tal sentimento. Eu devia ter uns seis anos de idade, não mais que isso.

Todas as vezes que parávamos em algum lugar eu era um dos primeiros a descer e correr em volta de cada uma das carroças. Chamava pelo nome cada uma das crianças que fazia parte do grupo, nossa grande família.

Depois de correr e ver que todos já estavam pisando na terra e correndo como eu, ia para o meio dos homens e com minhas pequenas mãos me punha a ajudar nos preparativos do acampamento.

Os mais velhos diziam que eu nasci destinado para guiar um grande grupo, pois tinha o instinto natural de cuidar de cada um sem fazer distinção.

Eu era como o filho de todos..., pois meu pai morrera pouco antes de eu nascer. Fora morto por um homem que sentiu-se traído depois de ter comprado uma peça de fina arte. Um belo vaso de porcelana que ele havia trocado por um trabalho realizado cunhando ferro para um rico lojista.

O vaso acabou se quebrando assim que o homem o pegou em suas mãos. Ele então exaltado começou a gritar no meio da multidão que começava a se formar.

Dizem que ele alegava que pelo preço que pagou na peça, essa não poderia se quebrar tão facilmente e ao exigir seu dinheiro de volta meu pai se negou a entregar lhe, pois uma vez que ele tinha aceitado a compra agora era responsabilidade dele sobre o vaso.

O homem sem piedade sacou de sua adaga e cortou-lhe o pescoço e em voz alta gritou que esse era o preço que meu pai estaria pagando por trair a sua confiança.

Meu pai estava sozinho nesse dia, conta Germano, que ele decidira retornar à cidade onde havíamos saído horas mais cedo para vender aquela peça, que, era demasiadamente grande. Com a minha chegada...pois eu estava prestes a nascer... seria bom ter mais espaço para minha mãe e eu ficarmos em nossa carroça, bem como moedas a mais seria de bom grado ter reservadas. Colocou o vaso em um dos cavalos e retornou...

Seu corpo foi trazido para junto do grupo por um homem...certamente de alma cigana, pois o seu coração sabia que estaríamos esperando pelo seu regresso. E foi esse homem quem relatou o acontecido.

Houve muita tristeza e revolta entre todos do grupo, mas o homem alertou que as pessoas daquele lugar não tinham consciência do que era justiça e certamente estariam naquele momento dando razão para o assassino e que o retorno do grupo poderia trazer mais sofrimento.

Germano aceitou os conselhos daquele homem e também consentiu que ele ficasse para o ritual de passagem de meu pai, que fora realizado ali mesmo naquele lugar...

Eu nasci semanas depois, minha mãe que ainda era muito jovem se manteve fiel a família de meu pai e continuou vivendo junto dela... cuidava de suas irmãs e dos mais velhos da família.

Essa sua lealdade pelo amor ao meu pai mesmo após a sua partida, tinham nela muito respeito e consideração...e eu por conta disso, fui considerado como filho de todos ali...embora todas as crianças fossem queridas pelos mais velhos, eu sentia nos olhares um carinho diferente.